« Ela estava à frente em todas as fases de reabilitação», recorda o cirurgião que operou Boisson
Esta é a bela história deste Roland-Garros 2025 e talvez até a bela história da temporada no circuito WTA. Classificada além do top 350 antes do torneio, a tenista francesa Loïs Boisson desafiou todas as previsões para chegar às meias-finais, no seu primeiro torneio do Grand Slam.
Com 22 anos, a natural de Dijon, convidada pelos organizadores, eliminou Elise Mertens, Anhelina Kalinina, Elsa Jacquemot, Jessica Pegula e Mirra Andreeva. A tenista, que estará pelo menos na 65ª posição após o torneio, eliminou assim três cabeças-de-série, incluindo duas membros do top 10.
Contra Pegula e Andreeva, aproveitou o ambiente da Court Philippe-Chatrier para virar o jogo contra a americana antes de desanimar a jovem russa de 18 anos. Nesta quinta-feira, Boisson tem um encontro com a história.
Primeira tenista francesa nas meias-finais de Porte d’Auteuil desde Marion Bartoli em 2011, pode ser a primeira do seu país a chegar à final deste torneio em 20 anos. Na época, foi Mary Pierce que abriu caminho até à última etapa, antes de cair contra Justine Henin.
Para manter uma chance de imitar Pierce, que venceu Roland-Garros em 2000, terá de realizar mais um feito, pois desta vez é Coco Gauff, número 2 mundial e finalista em 2022, que surge no seu caminho.
Antes deste encontro, que ocorrerá após a primeira meia-final entre Aryna Sabalenka e Iga Swiatek, Bertrand Sonnery-Cottet, o cirurgião que operou Boisson (vítima de uma rutura do ligamento cruzado do joelho há um ano), falou sobre a reabilitação da francesa, que regressou muito rapidamente a um excelente nível.
«Fiquei arrepiado! É incrível, vocês não fazem ideia de onde ela veio. Já opereii vários atletas de alto nível. E entre os mais impressionantes a nível mental, estão Zlatan (Ibrahimovic), Charles Ollivon, Ada Hegerberg e ela.
Zlatan e Charles estavam no fim da carreira. Aqui, era uma rapariga de 21 anos desconhecida, à beira de conseguir algo e que enfrentou um túnel de nove meses com dúvidas constantes, questões sobre a gestão da lesão e o nível desportivo ao regressar.
São feras feridas que sofrem. É um processo longo e, até prova em contrário, voltar a um nível mais alto é inimaginável. No caso de Loïs (Boisson), é excecional.
Depois de trinta segundos, percebemos com quem estamos a lidar. Loïs tem um carácter enorme. Ela testa as pessoas, precisava de confiar em mim e que eu demonstrasse as minhas competências.
Ela fazia muitas perguntas sobre os detalhes da cirurgia, a recuperação. Também me pediu as publicações científicas que eu tinha feito sobre o assunto. Ela vai muito longe.
Ela não estava nada na postura da coitadinha, decidiu tudo o que era preciso fazer para se recuperar, com uma equipa muito forte, unida e competente à sua volta. Cada consulta de controlo era apenas uma validação das etapas superadas.
E ela estava à frente em todas as fases de reabilitação. Ela é fechada, não tem um carácter expansivo, não é de conversa, mas é uma boa miúda, nada arrogante.
Ela é obcecada pelo que faz e tão apaixonada. Ao fim de três meses, perguntou-me se podia bater bolas. Disse que era importante para os seus golpes. Eu disse-lhe que iria pôr o joelho em risco.
Ela respondeu: ‘E se eu estiver sentada numa cadeira?’ Acabei por ceder. Ela é uma máquina. Ter uma atleta com este nível mental, não sei se houve muitas. Sempre que tem um pequeno problema, manda-me uma mensagem. Falamos no domingo de manhã após a dor no joelho esquerdo no sábado (contra Jacquemot na 3ª ronda).
A dor é muito fugaz em alguns serviços, e normal nesta fase, considerando o tempo. Ela planeia vir ver-me depois de Roland-Garros, espero que o mais tarde possível», explicou o cirurgião ao L’Équipe.
Aberto da França